quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Sobre culpa, arrependimento, remorso, perdão (no Budismo)


Pergunta: O que o Lama sugere quando nos culpamos por algo que fizemos e ficamos envoltos pelo sentimento de culpa, ruminando esse sentimento?

Lama Padma Samten: A pessoa precisaria olhar para si mesma com compaixão. A culpa significa um auto-interesse, ou seja, a pessoa gostaria de ter uma manifestação correta, mas não tem, então ela se avalia desse modo, culpando-se. A culpa está associada a uma visão. A pessoa olha para si mesma e é como se tivesse um nível de orgulho também, pois a pessoa gostaria de manifestar aquilo tudo certo, não conseguindo ela lastima que tenha feito aquilo, ela não tem como apagar aquilo que foi feito, então ela arde por dentro com essa culpa.

É preferível que tenha compaixão por si mesma, que tenha compaixão pelos outros, que tenha apreciação por suas próprias qualidades positivas que pode manifestar, apreciação pelas qualidades positivas que os outros podem manifestar também. Quando a pessoa manifesta isso, a culpa desaparece. O caminho mais rápido, se não lembrar de tudo isto, é a lembrança das qualidades positivas que temos. Nós dizemos: ainda que eu tenha feito coisas negativas, não é isso que eu aspiro, eu aspiro fazer coisas positivas; as pessoas se enganam e se atrapalham e fazem coisas negativas e eu também, mas eu tenho qualidades positivas, eu não preciso ficar preso nisso, eu posso fazer coisas boas.

O remorso não ajuda
Aluno: Queria entender a questão da culpa, no Zen...
Monge: Culpa não ajuda. Se você já se arrependeu, já tem culpa, o arrependimento é bom mas não para ficar acalentando remorsos. Se você pensar 'eu não devo fazer isso, isso gera mau carma, más consequências, não vou fazer de novo, vou evitar....' só tem uma maneira de você melhorar seu carma: fazendo boas coisas. E cultivar remorso não vai ajudar, tem que abandonar, deixar de lado o passado, e passar a realmente viver. Acalentar culpa é uma má ideia.
Fonte

[...] às vezes a pessoa pode ficar um pouco perturbada em tentar fazer sempre o melhor ou encontrar uma sabedoria que resulte em escolhas mais corretas [...]

Não há que ser perfeito. Não tente. Seja o que você é, um homem comete erros, um homem se engana, na verdade, nós ao tentarmos seguir algum modelo, ficaremos infelizes. Nós temos que fazer a nossa prática de sempre esquecer o passado. O erro do passado é sempre esquecido, agora vou fazer assim, melhor, porque produz menos sofrimento, mais felicidade para mim e para os outros seres.

Eu só estou andando, e a vida se mostra a cada passo. Não tente caminhar e ser perfeito. Não tente ser santo, tente ser só um Bodhisattva, mas um Bodhisattva tem outra visão do mundo.

Nagarjuna foi assassinado, ele era um grande Mestre do século I ou II DC. Os seus discípulos o encontraram esfaqueado, e perguntaram a ele: “quem fez isso”? E ele disse: “eu mesmo”. E os alunos disseram que sabiam que não fora ele que se esfaqueou, que dissesse quem havia feito aquilo, e ele disse: “isso é resultado do meu carma passado, de alguma maneira no meu passado eu criei condições para que isso acontecesse. Então fui eu mesmo que fiz isso. Agora, se eu disse que uma pessoa fez isso comigo aqui e agora, um assassino, vocês o odiarão e o perseguirão, e esse ciclo não terá fim”. E morreu sem revelar. Ninguém sabe quem matou Nagarjuna. Ninguém foi perseguido, não houve nenhuma vingança. Essa é a visão do Bodhisattva.
Fonte

Poema do Arrependimento
Desde a época de Xaquiamuni Buda esse poema tem sido entoado de quinze em quinze dias, nas luas cheias e luas novas de cada mês:

Todo carma prejudicial alguma vez cometido por mim, desde tempos imemoriáveis
Devido à minha ganância, raiva e ignorância sem limites
Nascido de meu corpo, boca e mente
Agora, de tudo, eu me arrependo.

Fonte

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