segunda-feira, 21 de maio de 2012

America, Allen Ginsberg

América
Allen Ginsberg
Extraído de 'UIVO, Kaddish e outros poemas'




 
América eu lhe dei tudo e agora não sou nada.
América dois dólares e vinte e sete centavos 17 de janeiro, 1956.
América não agüento mais minha própria mente.
América quando acabaremos com a guerra humana?
Vá se foder com sua bomba atômica.
Não estou legal não me encha o saco.
Não escreverei meu poema enquanto não me sentir legal.
América quando é que você será angelical?
Quando você tirará sua roupa?
Quando você se olhará através do túmulo?
Quando você merecerá seu milhão de trotskistas?
América por que suas bibliotecas estão cheias de lágrimas?
América quando você mandará seus ovos para a Índia?
Estou cheio das suas exigências malucas.
Quando poderei entrar no supermercado e comprar o que preciso só com minha boa aparência?
América afinal eu e você é que somos perfeitos não o outro mundo.
Sua maquinaria é demais para mim.
Você me faz querer ser santo.
Deve haver um jeito de resolver isso.
Burroughs está em Tanger acho que ele não vai voltar mais isso é sinistro.
Estará você sendo sinistra ou isso é uma brincadeira?
Estou tentando entrar no assunto.
Recuso-me a abrir mão das minhas obsessões.
América pare de me empurrar sei o que estou fazendo.
América as pétalas das ameixeiras estão caindo.
Faz meses que não leio os jornais todo dia alguém é julgado por assassinato.
América fico sentimental por causa dos Wobblies.
América eu era comunista quando criança e não me arrependo.
Fumo maconha toda vez que posso.
Fico em casa dias seguidos olhando as rosas do armário.
Quando vou ao Bairro Chinês fico bêbado e nunca consigo alguém para trepar.
Eu resolvi vai haver confusão.
Você devia ter me visto lendo Marx.
Meu psicanalista acha que estou muito bem.
Não direi as Orações ao Senhor.
Eu tenho visões místicas e vibrações cósmicas.
América ainda não lhe contei o que você fez com Tio Max depois que ele voltou da Rússia.

Eu estou falando com você.
Você vai deixar que sua vida emocional seja conduzida pelo Time Magazine?
Estou obcecado pelo Time Magazine.
Leio-o toda semana.
Sua capa me encara toda vez que passo furtivamente pela confeitaria da esquina.
Leio-o no porão da Biblioteca Pública de Berkeley.
Está sempre me falando de responsabilidades. Os homens de negócios são sérios. Os produtores de cinema são sérios. Todo mundo é sério menos eu.
Passa pela minha cabeça que eu sou a América.
Estou denovo falando sozinho.
A Ásia ergue-se contra mim.
Não tenho nenhuma chance de chinês.
É bom eu verificar meus recursos nacionais.
Meus recursos nacionais consistem em dois cigarros de maconha milhões de genitais uma literatura pessoal impublicável a 2.000 quilômetros por hora e vinte e cinco mil hospícios.
Nem falo das minhas prisões ou dos milhões de desprivilegiadas que vivem nos meus vasos de flores à luz de quinhentos sóis.
Aboli os prostíbulos da França, Tanger é o próximo lugar.
Ambiciono a Presidência apesar de ser Católico.

América como poderei escrever uma litania nesse seu estado de bobeira?
Continuarei como Henry Ford meus versos são tão individuais como seus carros mais ainda todos têm sexos diferentes.
América eu lhe venderei meus versos a 2.500 dólares cada com 500 de abatimento pela sua estrofe usada.
América liberte Tom Mooney
América salve os legalistas espanhóis.
América Sacco & Vanzetti não podem morrer
América sou os garotos de Scottsboro
América quando eu tinha sete anos minha mãe me levou a uma reunião da célula do Partido Comunista eles nos vendiam amendoins um bocado por um bilhete um bilhete por um centavo e todos podiam falar todos eram angelicais e sentimentais para com os trabalhadores era tudo tão sincero você não imagina que coisa boa era o Partido em 1935 Scott Nearing era um velho formidável gente boa mesmo Mãe Bloor me fazia chorar uma vez vi Israel Amster cara a cara. Todo mundo devia ser espião.
América na verdade você não quer ir à guerra.
América são eles os Russos malvados.
Os Russos os Russos e esses Chineses. E esses Russos.
A Rússia quer nos comer vivos. O poder da Rússia é louco. Ela quer tirar nossos carros das nossas garagens.
Ela quer pegar Chicago. Ela precisa um Reader's Digest vermelho. Ela quer botar nossas fábricas de automóveis na Sibéria. A grande burocracia dela mandando em nossos postos de gasolina.
Isso é ruim. Ufa. Ela vai fazê os Índio aprendê vermelho. Ela quer pretos bem grandes. Ela quer nos fazê trabalhá dezesseis horas por dia. Socorro.
América tudo isso é muito sério.
América essa é a impressão que eu tenho ao assistir televisão.
América isso está certo?
É melhor eu por as mãos à obra.
É verdade que não quero me alistar no Exército ou girar tornos em fábricas de peças de precisão. De qualquer forma sou míope e psicopata.
América estou encostando meu delicado ombro na roda.

Allen Ginsberg

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