domingo, 18 de junho de 2017

Óleo de côco é melhor que óleo de soja, canola e girassol? - Flávio Passos

Estou há alguns dias recebendo uma chuva de mensagens de pessoas preocupadas ou incomodadas com posicionamentos recentes contra o consumo do óleo de coco e recomendando o óleo de soja e girassol como a opção ultra saudável.

O primeiro argumento dentro deste posicionamento para "desrecomendar" este alimento natural é que ele não deve ser prescrito para a perda de peso.

Com isto eu realmente preciso concordar. 
Em primeiro lugar, estamos falando de comida, e comida não se prescreve: come-se.

Em segundo, na nutrição não existem pílulas mágicas. Existem contextos e estratégias dos quais as engrenagens que os fazem funcionar não tem utilidade se são removidas do contexto.

Ou seja: se você está fazendo uma dieta com baixo carboidrato e utilizando o óleo de coco para se manter energizado na ausência das calorias de açúcares e amidos, é bem possível que o seu corpo perca excesso de peso. 

Mas se você está praticando uma dieta comum, com bolos, cookies, barrinha de cereal e um ocasional fast food e de repente acrescenta óleo de coco na sua dieta, de fato não há chance de que seu corpo elimine seus excessos.

Fácil de entender né?

O posicionamento poderia ter se dedicado a explicar isto, mas optou por apenas condenar o óleo de coco.

Outros argumentos foram colocados neste posicionamento. O mais fundamental seria que o óleo de coco é uma gordura predominantemente saturada, e que isto pode elevar o risco de doenças coronárias. 

Pois bem, nada há a argumentar contra isto... a não ser apresentar uma pequena lista de evidências do tipo 1 (grau máximo, diferentes dos estudos observacionais citados pelas “entidades oficiais”) que comprovam a TOTAL FALTA DE ASSOCIAÇÃO entre gorduras saturadas e problemas cardíacos. 

Isso não sou eu quem estou dizendo: é a ciência em seu grau mais conclusivo.

“Insufficient evidence of association is present for intake of … saturated or polyunsaturated fatty acids; total fat … meat, eggs and milk.” Mente A, et al. A systematic review of the evidence supporting a causal link between dietary factors and coronary heart disease. Arch Intern Med. 2009 Apr 13;169(7):659-69.
Conclusions Saturated fats are not associated with all cause mortality, CVD, CHD, ischemic stroke, or type 2 diabetes, but the evidence is heterogeneous with methodological limitations. Trans fats are associated with all cause mortality, total CHD, and CHD mortality, http://www.bmj.com/content/351/bmj.h3978

49 estudos observacionais e 27 ensaios clinicos randomizados: Current evidence does not clearly support cardiovascular guidelines that encourage high consumption of polyunsaturated fatty acids and low consumption of total saturated fats. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24723079
“…no significant evidence for concluding that dietary saturated fat is associated with an increased risk of CHD or CVD.” Siri-Tarino PW, et al. Meta-analysis of prospective cohort studies evaluating the association of saturated fat with cardiovascular disease. Am J Clin Nutr. 2010 Mar;91(3):535-46. 

__________________________

Na sequência há a desatualizada concepção de que o colesterol necessariamente causa problemas cardíacos, e que quanto mais baixo melhor. 

Curiosamente este posicionamento optou por ignorar uma análise de 136 mil pacientes em 2009, que concluiu que quase da metade dos pacientes que foram hospitalizados com problemas cardíacos tinham o LDL normal ou baixo. 

Também parecem ter sido ignoradas outras metanálises, e especialmente o estudo de Ramsden no BMJ que demostra que NÃO HÁ UMA RELAÇÃO entre as flutuações de colesterol de LDL provocadas pela dieta e risco cardiovascular.

É o famoso “cherry picking”, ou o ato de selecionar dados que comprovam a sua teoria e ignorar dados que desmontam as suas teorias.

Isto é absolutamente comum no mundo científico. E é o que dá base para a maior parte das manchetes sensacionalistas.

O fato concreto é que o colesterol é IMPORTANTE para a saúde dos hormônios e do cérebro. O LDL é composto de 11 tipos de lipides, sendo que somente 2 são nocivos. Os outros 9 são essenciais para a Saúde.

A concepção de que o colesterol deve ser o mais baixo possível pode trazer consequências severas em diversos campos da Saúde.

Mas isto não sou eu quem estou dizendo, são as pesquisas mais recentes, sólidas e atuais.

O que falta na análise deste posicionamento é: a quem interessa condenar o óleo de coco e glorificar o óleo de soja, canola e girassol?

Óleo de coco é uma produção de predominante trabalho de cooperativas, com bastante esforço manual e artesanal. Requer mão de obra, por isso é mais caro.

Óleo de coco não pode ser produzido com a mesma larga escala que acontece com soja, canola, girassol e outros. Portanto, não é lucrativo para as grandes corporações.

Enfim, realmente sugiro que as manchetes sejam analisadas com cuidado.

Recomendo uma dose de pensamento crítico em qualquer análise.

Água pura e pensamento crítico não fazem mal a ninguém.

Marcadores:

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial