segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Impermanência - Chagdud Rinpoche

IMPERMANÊNCIA
[...] “Então”, você poderia pensar, “o universo muda continuamente, e da mesma forma os relacionamentos; no entanto, ‘eu’ sou sempre o mesmo.” Mas quem sou “eu”? Sou o corpo? No momento da concepção, o corpo humano começa como uma única célula, então se multiplica em uma massa de células que se diferenciam para formar vários sistemas orgânicos. Depois de virmos ao mundo como um bebê plenamente formado, começamos a crescer a cada momento, para nos tornamos adultos. Esse processo físico ocorre semana a semana, mês a mês, até que chega um tempo em que percebemos que as coisas estão ficando um pouco piores, e não um pouco melhores. Não estamos mais crescendo; estamos envelhecendo. Inexoravelmente, perdemos certas capacidades: nossa vista se enfraquece, nossa audição falha, nosso raciocínio se embaralha. É a impermanência cobrando seu preço.
Se vivermos a duração normal de uma vida e tivermos uma morte natural, ficaremos mais e mais enfraquecidos, até que, um dia, não conseguiremos mais sair da cama. Talvez não seremos capazes de nos alimentar, de evacuar ou de reconhecer as pessoas à nossa volta. Em um dado momento, morreremos, nosso corpo uma casca vazia, nossa mente vagando pela experiência do pós-morte. Este corpo, que foi tão importante por tanto tempo, será queimado ou enterrado. Pode mesmo vir a ser devorado por animais selvagens ou pássaros. Em um dado momento, nada restará para fazer lembrar aos outros que um dia estivemos aqui. Nós nos tornaremos nada mais do que uma lembrança. “Bem”, você poderia pensar, “o corpo é impermanente, mas o ‘meu eu real’, a minha mente, não é.” No entanto, se você olhar para sua mente, verá que não é a mesma de quando você era um bebê. Naquele tempo, tudo o que você queria era o leite da sua mãe e um lugar aquecido para dormir. Um pouco mais tarde, alguns brinquedos deixavam você contente. Mais tarde, foi um namorado ou uma namorada, e depois um certo emprego ou casamento ou casa. Suas necessidades, desejos e valores mudaram; não todos de uma só vez, mas segundo a segundo. Mesmo ao longo de um único dia a mente experimenta felicidade e tristeza, pensamentos virtuosos e não-virtuosos, repetidas vezes. Se tentamos segurar um determinado momento, mesmo enquanto pensamos em fazê-lo ele já desapareceu. Como o corpo e a mente, nossa fala está constantemente mudando: cada palavra que enunciamos se perde; uma outra se apressa para substituí-la. Não há nada que possamos apontar que seja imutável, estável, permanente. [...]

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