A Degradação da Humanidade e as Eleições de 2014
"Jamais imaginei que fosse necessário escrever um artigo com este teor, mas as consequências das últimas eleições de 2014 no Brasil me obrigam a lançar um alerta vermelho à nossa doente sociedade. Os protestos de junho de 2013, ao invés de abrirem o caminho a uma ampliação da consciência das massas e de ascensão das lutas sociais por maiores conquistas, abriu a caixa de pandora do ódio, do preconceito e da intolerância. Mesmo com a vitória de Dilma Rousseff nas últimas eleições, os ânimos não se aquietam e velhos fantasmas do passado voltam a assolar o país: uns pedem a volta da sanguinária ditadura militar, outros se mobilizam pelo separatismo e fragmentação do território nacional e outros clamam pelo fundamentalismo religioso. Mas todos parecem rezar para o mesmo “deus”, o assim chamado mercado, que na verdade é velho capital.
A última etapa do capitalismo e a degradação da humanidade
Talvez se as pessoas soubessem qual é a origem do dinheiro, quem o controla e a que fins ele serve, não se mobilizariam de forma insana em nome de um sistema que escraviza o ser humano. Com o fim da II Guerra Mundial, o dólar passou a ser a moeda internacionalmente aceita no capitalismo. Ocorre que em 1971, ela deixou de ter lastro em ouro e a partir da década de 1990, com a globalização dos mercados, o dólar parou de ter existência real para ser simplesmente números digitados na tela de um computador, imediatamente transferidos a algum banco e de lá para algum cliente. A fim de salvar os bancos da crise de 2008/2009, foram criados virtualmente (com simples digitações), US$ 17 trilhões (17.000.000.000.000,00). Quem emite o dólar é o Federal Reserve (FED), o Banco Central dos Estados Unidos, que é uma entidade privada controlada por poucas famílias de banqueiros. O objetivo desta oligarquia financeira é controlar toda a economia mundial, todos os seus recursos, toda a mão de obra e todo mercado consumidor do planeta e para isto, eles instrumentalizam os Estados Unidos, a União Europeia, o Japão e sua mais nova criação: Israel.
O nome desta etapa do capitalismo é imperialismo, na qual as oligarquias financeiras instrumentalizam Estados nacionais para executarem seus projetos de dominação. Não se deve confundir os Estados imperialistas, instrumentalizados pela oligarquia financeira, com o povo desses países, que são tão explorados e vitimado pelo sistema quando aqueles que vivem na periferia do mundo. Hoje, a maior potência imperialista do mundo chama-se Estados Unidos. Para consolidar sua dominação, os EUA não se furtam de realizar guerras por petróleo, gás, minérios radioativos e promover golpes, ditaduras militares ou impor bloqueios e embargos a países que não se submetem ao seu autoritarismo nas relações internacionais.
A vitória dos Estados Unidos na Guerra Fria e da ideologia liberal capitalista impuseram à humanidade o dogma do “Fim da História”, no qual a sociedade ocidental capitalista cristã e individualista seria o modelo último de humanidade. Este é o padrão do “homem ideal”, difundido como exemplo a ser seguido em um projeto que visa a uniformização e a padronização do mundo. Ou seja, qualquer identidade coletiva ou social deve ser destruída em nome do individualismo. A memória histórica dos povos, seus costumes, arte, culinária e língua seriam assim substituídas pela ideia de que o capitalismo sempre existiu, de que a exploração seria inerente a qualquer sociedade, que o “american way of life” seria o tipo ideal de vida, que o cinema hollywoodiano seria o expoente máximo da arte e que a língua inglesa seria aquela que substituiria todas as linguagem nativas que supostamente impedem as pessoas de se comunicarem num mundo globalizado.
Tudo isto é feito em nome de uma suposta liberdade que só existe na esfera dos pretextos que justifiquem a imposição deste projeto totalitário, chamado de “New World Order” ou “Full Aspect Dominance”. Ou seja, o indivíduo é iludido pela ideia de que ele é livre para escolher sua profissão e com seu salário comprar aquilo que bem entender. O que ele não entende é que a “livre escolha” de seu trabalho está relacionada à oferta de empregos na área em que o “mercado” impõe, da mesma forma que a “livre escolha” por seus produtos está associada exclusivamente aos padrões de consumo impostos pelas grandes companhias, todas elas sob controle do capital financeiro.
A produção capitalista alcançou grande produtividade não por ser melhor, mas por conseguir desenvolver um sistema que prende, escraviza e aprisiona os consumidores a um ciclo infinito de produção. Os produtos são feitos para não durarem. Ou seja, carros, computadores, eletroeletrônicos e toda a espécie de bens de consumo têm durações limitadas, o que obriga o consumidor a sempre ter que trocá-los. O mesmo ocorre com relação a roupas e utensílios que são impostos em propagandas explícitas ou subliminares e que fazem com que as pessoas aceitem passivamente padrões de vestimenta e de comportamento em nome da moda, da modernidade ou mesmo de uma suposta higiene. Mas para entrar na roda do consumismo, é preciso endividar-se, recorrer ao banco, submeter-se aos juros abusivos, comprometer a maior parte do orçamento familiar com o pagamento de dívidas e passar a vida negociando e renegociando novos créditos de um dinheiro fictício, emitido por uma meia-dúzia de magnatas que no fundo só deseja explorar o trabalho daqueles que se submetem à violenta padronização do sistema capitalista.
Para iludir, o entretenimento distrai e promove identidades fragmentadas. As pessoas escolhem time de futebol, religião, partido, orientação sexual ou qualquer tipo de sub-identidade que pode variar em diferentes fases da vida, mas sempre executam o que o sistema pede: a fragmentação, a individualização e a funcionalidade ao sistema. Enquanto isto, câmeras de vigilância se espalham por todo o mundo, redes sociais fornecem informações minuciosas sobre o perfil e comportamento individual das pessoas aos serviços de espionagem dos Estados Unidos, que geram bancos de dados minuciosos sobre como dominar, controlar e submeter cada vez mais. Todos recebem um número de identidade, um código de barras, que os classifica como máquinas que acreditam ser livres, mas estão em fato aprisionadas por onde quer quer tentem escapar. A sociedade orweliana está em fase final de implantação, o Big Brother está muito próximo de controlar cada aspecto da vida humana e muitos aderem voluntariamente a isto em nome do que acreditam ser uma escolha livre.
Na verdade, a liberdade morre com o ataque degradante da mídia à política e às poucas instituições democráticas, a duras penas conquistadas. Enquanto os meios de comunicação demonizam o político de modo geral, estão na verdade cegando as pessoas sobre a possibilidade de escolherem coletivamente seus destinos. Afinal, não dizem que o que corrompe o político e o torna corrupto é o próprio sistema econômico que compra, perverte e destrói. Enquanto carimbam o rótulo de corrupção apenas àqueles que atuam nos mecanismos democráticos, fingem não existir corruptos nas empresas privadas, na mídia, na burocracia estatal e no judiciário. A negação da política enquanto instrumento de transformação da sociedade é o mais inteligente mecanismo para fazer com que as pessoas chutem a própria escada e aceitem o destino que lhes imposto para deixarem de ser cidadãos e se tornarem consumidores. Assim, os rumos que os Estados tomam deixam de ser decisões políticas, estratégicas e coletivas e passam a ser decisões friamente técnicas, racionais e tomadas por uma minoria que em nome da “meritocracia” se impõe sobre todos os demais. Assistimos a uma robotização da sociedade e a destruição do pouco que sobrou de humanidade.
Assim se difunde o ódio às lutas sociais, pois o socialismo, se fosse realmente implantado, levaria ao fim de qualquer tipo de exploração do trabalho. Seria a emancipação do ser humano e a garantia dos direitos coletivos e individuais. Mas com a criminalização da política, a imposição de regimes ditatoriais baseados na racionalidade do mercado, numa tecnocracia sustentada pela meritocracia, praticamente barra-se qualquer caminho possível para a emancipação última do ser humano. Para isto, os meios de comunicação difundem a ideia de que não é possível superar o sistema e que todos devemos não apenas nos submetermos a ele, mas adorá-lo, tratá-lo como um “deus”, o famigerado “deus-mercado”, que deve receber oferendas chamadas de “superávit primário”, “aumento de juros”, “pagamento da dívida pública” e tantos outros nomes supostamente técnicos para esconder sua verdadeira natureza que é tirar dinheiro do trabalhador para enriquecer ainda mais os banqueiros e acionistas que tratam pessoas como números em planilhas contábeis.
Não só o ser humano que é vítima deste sistema, mas toda a natureza. A água, a terra, o solo, o subsolo e até o ar hoje são convertidos em mercadorias. Privatiza-se o que é de todos, desnacionaliza-se o que pertence a um povo e desregulamenta-se quaisquer regras a fim de que o capital possa agir sem barreiras. Ao mesmo tempo, retira-se as populações do campo e da floresta, enlatando-as nas megacidades sujas, poluídas e insanas. Ecossistemas inteiros são devorados, espécies entram na lista de extinções e a paisagem verde e azul é substituída pelo cinza e pelo negro. Mas ao invés de emergir uma consciência ambiental, o capital promove o discurso ecocapitalista que na verdade objetiva controlar reservas de recursos sob o pretexto da conservação para poderem explorar no futuro, a preços muito mais elevados como resultantes da escassez. E este discurso pobre, infelizmente seduz muitos jovens que realmente defendem o meio-ambiente, mas que se vêm perdidos frente às possibilidade reais que se mostram presentes.
A disputa pelo Brasil e por tudo o que ele representa
O Brasil não é qualquer país. Tem dimensões territoriais, grande população, enormes reservas de recursos naturais e está entre as maiores economias do mundo. Além disto, exerce uma respeitável liderança entre os países em desenvolvimento que propõem a construção de um mundo alternativo, baseado na multipolaridade e no respeito mútuo.
A aliança do Brasil com os países latino-americanos em busca da integração, a aproximação com os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), as relações com a África e o Oriente Médio, fizeram com que o país fosse reconhecido cada vez mais como importante ator internacional. Ao mesmo tempo, o questionamento que o Brasil faz à imposição de uma ordem unipolar, se soma a todos aqueles que de da sua maneira resistem à padronização e à uniformização do mundo imposta pelo “Ocidente” (EUA, Europa e Israel). A criação de um Banco e de um Fundo do BRICS que realiza operações sem o dólar e para as quais não se exige políticas de “austeridade”, explica por que a todo custo há o interesse em derrubar o atual governo brasileiro.
Além de sua atuação externa, o Brasil de Lula e Dilma segue na contramão do mundo em crise: gera empregos, diminui a pobreza e eleva a renda da população, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa onde o desemprego cresce, mais pessoas empobrecem e a riqueza da população é corroída ao mesmo tempo em que se concentra renda nas mãos de poucos bilionários.
Por tudo isto, o Brasil despertou a ira daqueles que promovem o projeto imperialista estadunidense, que possui a mídia oligopolista brasileira, parte do empresariado nacional e partidos políticos conservadores como seus principais aliados. Estes, portanto, trabalharam e continuam trabalhando para uma “mudança de regime” no Brasil, a fim de torná-lo o que o país sempre fora no passado: pobre, dependente e sob o controle da elite. Esta é a fonte de tanto ódio destilado pela mídia e promovido por aqueles que muitas vezes não têm a dimensão do que significa apoiar Aécio Neves.
O projeto neoliberal, que foi derrotado nas urnas em 2014, defende as privatizações, um avanço autoritário em nome da segurança, redução às liberdades individuais sob o pretexto da defesa de um padrão de família e o fim do atual ciclo de distribuição de renda no país. Trata-se exatamente de retomar no Brasil o rumo que está levando a humanidade a uma decadência moral e espiritual. Significa mergulhar o país no rumo que tem levado o planeta à sua degradação.
Para isto, aparecem personagens como o fascista Jair Bolsonaro, o fundamentalista Marco Feliciano, o preconceituoso Silas Malafaia, a ecocapitalista Marina Silva, o privatista Geraldo Alckmin, o autoritário José Serra, o oligarca Bornhausen, o ruralista Ronaldo Caiado, o violento Coronel Telhada e tantos outros personsagens nefastos tanto por suas histórias política quanto pelas forças obscuras que representam. Todos eles se uniram no segundo turno em torno de Aécio Neves, baseando-se no mesmo discurso de ódio de que o maior inimigo seria o PT. Mas a demonização do PT não é a um partido, a uma agremiação ou a um grupo de pessoas, mas sim a um projeto de libertação e de sociedade que infelizmente esta agremiação tem dificuldade de compreender o tamanho e a grandeza que o destino lhe reservou. Por isto tanta paranoia e medo de que o Brasil se torne “bolivariano”, “comunista” e que o Fórum de São Paulo triunfe.
Conclusão: rumo a uma alternativa
Não há outro caminho para salvar o Brasil e o mundo que não seja a conscientização das pessoas sobre o que este sistema realmente representa e quais seus objetivos finais. Mas a conscientização por si só não é capaz de transformar e para isto se soma a mobilização para barrar o projeto neoliberal, a luta por mais espaços políticos (e não por menos) e a afirmação das causas justas e em favor do povo. É preciso ter clareza de onde se quer chegar: numa sociedade justa, democrática, que garanta as liberdade individuais e coletivas e que resisita à padronização, uniformização e escravidão pelo capital. Esta nova sociedade já foi chamada de anarquista, comunista, socialista, mas o nome pouco importa. O que importa é não deixarmos de ser “utópicos” e darmos novos passos rumo a um projeto harmônico de humanidade, que elimine qualquer tipo de exploração e que seja capaz de trazer a tão sonhada paz ao planeta, convivendo naturalmente com outras espécies e preservando a natureza que nossos ancestrais nos legaram".
Marcadores: Política, Thomas de Toledo
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