Ana Maria Primavesi e a Agroecologia
Ana Maria Primavesi estudou na Áustria, país onde nasceu e viveu até se casar. Lá, pôde estudar com grandes nomes da agronomia, como o professor Kubiena e o professor Sekera. Mas foi o professor Johannes Görbing que lhe despertou o olhar para a questão das deficiências minerais, um pesquisador de campo que, numa excursão de campo, mostrou àquela menina que o acompanhava que as plantas respondiam ao solo, uma obviedade que nem sempre ficou tão clara. A perspicácia daquela jovem foi unir fatores que se estudam isoladamente, compondo um sistema dinâmico, como ela sempre diz.
Em 1946, um ano após o término da Segunda Grande Guerra, casou-se com o também engenheiro agrônomo Artur Primavesi, e resolvem, dois anos depois, vir para o Brasil. Demorou um pouco para ela voltar a se dedicar à agronomia, porque os filhos vieram, mas conciliava a maternidade ajudando o marido e participava de projetos que ele se envolvia. Mudaram-se algumas vezes. De cidade em cidade, Ana foi conhecendo índios, agricultores, curandeiros. De novo, agregou saberes. Salvou o marido da febre amarela quando todos os infectados morriam. Incansável, lutou com todas as “plantas” que sabia terem algum efeito sobre o fígado, e até hoje não sabe se foram as plantas ou a ordem que usou para salvá-lo, mas ele ficou bom.
Filhos crescidos, volta a dedicar-se com mais afinco à agronomia, e lança o livro que seria considerado o marco da agroecologia: “Manejo Ecológico do Solo”. Planeja e consegue desenvolver o projeto do primeiro filme sobre a vida do solo que se tem notícia, uma ferramenta didática que desvenda a difícil tarefa de se compreender a dinâmica dos micro seres que vivem no solo. Ana Primavesi foi mostrando ao mundo seus saberes, foi ensinando às pessoas que o solo é vivo, e que, em solos tropicais, é preciso vivificá-lo, ou seja, mantê-lo coberto com matéria orgânica, já que de sua decomposição é que os elementos essenciais serão disponibilizados, ou seja, é a vida do solo que promove a fertilidade.
Foi combatida, ridicularizada. Mas nunca se importou, porque acreditava no que fazia, porque sabia. Passou a ser convidada para aulas, palestras, cursos, assessorias. Ia e não cobrava. Ensinava e aprendia, e com isso foi se tornando maior do que já era. Sua grandeza expandia-se em uma sabedoria agregadora, acolhedora. Falava simples e ensinava de maneira simples, e por isso também foi combatida, acusada de não ter nada de científico no que defendia. O científico deveria ser algo difícil, complexo, inalcançável. Mas não para ela. Explicar o complexo de forma simples fazia de Ana Primavesi um porto seguro para aqueles que amavam sua terra e dela tiravam seu sustento.
Perguntada se “inventou a agricultura orgânica”, disse que “inventar, não inventou nada.” Ela somente trabalhou dessa maneira, porque é a maneira certa. Aos noventa e seis anos, acumula prêmios e homenagens, mas não gosta muito de recebê-los, defendendo que não se deve ser premiado por se fazer a coisa certa. Mesmo assim, as homenagens são cada vez mais frequentes e os convites incansáveis, porque por mais combatida e criticada que tenha sido, ela estava e está certa.
O solo é vivo.
*O filme sobre a vida do solo está disponível em:
Vídeo que mostra ela dizendo que não inventou a agricultura orgânica:
Marcadores: Agroecologia, Ana Primavesi, Virgínia Knabben
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