sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Carta da minha vó pro meu pai

Luciano,

Lembro-me, tu contavas esórias, em diário e em quadrinhos.
Desenhavas bem certinho máquinas, gente e avião.
Eram naves, do teu jeito, computadores, tudo em animação.
Com legenda e tudo mais, em revistas,
Teu próprio mundo, feito à mão.
Gente se movimentando, falando.
Uma maravilha!
Com toda ciência.
Muito além do que se pensa, era tua imaginação.
Um gênio, eu diria, pela idade que tinhas, sem nem ver televisão.
De verdade viajavas, para outra dimensão.
Tu ias, em realidade e descrevias, p'ra gente, como era a vida lá.
Ruas suspensas, fora do chão, nunca aqui projetadas.
As pessoas moravam em casas diferente.
A beleza era constante, como música no ar.
Tudo transparente.
Falavas palavras, que só Deus sabia o que.
Descontraído, ninguém estranho p'ra ti.
Nenhum bloqueio havia.
P'ra que?
Nem 7 anos tinhas, aos cinco, já tudo entendias.
Filosofavas também, querendo explicar a vida, sem nada indagar.
Muita verdade foi dita na boca de um menino.
Lá pelas tantas, adolescência chegando, teu mundo foi fechando.
Vindo a razão.
As tendências ficaram, os computadores também.
Tudo é computação.
A criança se foi, o homem ficou.
Engraçado, antigamente tu sabias de tudo, no teu limbo inconsciente.
Hoje, adulto, queres tudo saber!
Por que não voltas a ser criança de novo?

Ellen Carneiro Vale, 22-05-95

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